Nunca parei para
tentar quantificar quantos lançamentos assisti, no Brasil e no exterior, em
quase meio século na atividade de escrevedor sobre automóveis. Foram muitos,
uns dois milhares. Olho no fato, no entorno e nos resultados permitiram
desenvolver sexto sentido, aquele dos advogados quando leem os autos, avaliam o
cenário, e sabem se terão chance de êxito – ou se é caso perdido. Ou o dos
médicos olhando paciente em risco intuem se sobreviverá ou virará estatística.
Não decupo as condições, mas vale o pacote produto, forma de apresentá-lo,
medida de importância perceptível nos envolvidos no projeto. Introdução é para justificar
o vaticínio: o Renault Kwid terá muito
sucesso.
SUV dos compactos
A favorabilidade das
condições começa pela apresentação aos compradores. O slogan é muito bom nesta época de siglas variadas e distorcidas – suv, sav, luav, cuv, crossover, ... -,
todas imprecisas, mas Suv dos Compactos
atende à moda demandada pelo consumidor, carro com jeito de músculos e força. Estilo
bem definido é parcela da conta de favorabilidade. Planejamento do produto
indicou a filosofia, e o grupo criador foi mandado à Índia, onde o Tata Nano,
era o carro mais barato do mundo, comprou uma unidade e dissecou-a para
entender o produto e o meio ambiente. A versão indiana ficou excessivamente
leve, 600 kg e mostrou-se insegura. Aqui aplicaram mais de 100 kg em reforços
estruturais.
Composição é de bom planejamento: peso reduzido para faze-lo
esperto com motor de 3 cilindros e um litro de deslocamento. Pouco mais de 700
kg para 70 cv de potencia, um cavalo para transportar dez quilos, ótima relação
– a gasálcool potência é 66 cv. A engenharia fez nova caixa de marchas, com
menos 7 kg ante o modelo anterior; e cabeçote do motor sem o variador de
abertura de válvulas, reduzindo 6 kg em peso e alguns Reais em custo. Idem para
o limpador pantográfico de apenas um braço, e parafusos de fixação das rodas
voltando à tradição francesa: 3 por unidade – em relação aos quatro dos outros
produtos faz-se economia de 4 parafusos, quatro porcas –reduzindo peso e preço.
Sugestão à Renault, apertadas as porcas, há sobra de 2mm para facear com o
parafuso. Podem ser reduzidas – 2mm x 12 porcas dá bem uns 20 gramas ...
Preço é parcela na exitosa conta. Por R$ 29.900
leva-se a versão Life, com quatro bolsas de ar, quantitativo não existente no
segmento. Carro é pelado, sem ar ou direção – venderá pontualmente. Segundo
degrau, Zen, é completo: ar + direção, travas e vidros elétricos a R$ 34.990.
Por mais R$ 350, radio com Bluetooth e entradas USB e auxiliar. Deve ser a mais
vendida.
Acima, a Intense, R$ 39.990 inclui faróis de neblina com aros cromados,
Media Nav 2,0 com camera de ré e tela de 18 cm com tela sensível ao toque. Diz
a Renault é o carro de menor consumo no país. Preços para cores básicas.
Metálicas, seguindo inexplicável tabela nacional, adicionais R$ 1.400.
Início de vendas pela Internet superou enormemente as previsões e os
agora inscritos receberão os automóveis em novembro. Surpresa, a Renault
manteve os preços da pré inscrição. Há complementação como garantia de preço
contido para revisões para veículos financiados pela empresa. Garante,
manutenção é inferior a R$ 1 por dia.
Mede 3,68m de comprimento, 2,42 cm entre eixos, 18 cm na altura livre do
solo, ajudam a desenhar a sensação de jipinho,
conceito impreciso porém considerado.
Na prática, pelo racional e pelo emocional tem tudo para fazer muito
sucesso.
Polo: sedã quase pronto
Surgiu
na Internet ilustração do Virtus, o sedã Polo, lançamento no primeiro trimestre
de 2018, cinco meses depois do hatch Polo.
Ambos construídos sobre e criativa plataforma MQB, capaz de ser esticada e
contraída em comprimento e largura, e quem o viu acredita ter distância entre
eixos levemente superior à do Polo. Em tal pacote, como o irmão de linha, serão
presença importante no mercado, servindo como conquista aspiracional aos
motoristas ascendendo em motorização, ou descenso racional a quem busca
veículos menores por fora mas confortáveis internamente. Tecnicamente a
plataforma é a A0, com eletrônica e conectividade em nível superior ao
encontrado em veículos do mesmo segmento B.
Em
arquitetura mecânica, seguirá o Polo: 1,0 litro, três cilindros em linha,
transversal, turbo, injeção direta, torque e potencia elevados a 128 cv e 200
Nm, transmissão mecânica com cinco velocidades ou automática e 6. Outro será o
1,6 l, L4, dito EA211 – é empregado na
versão superior do Saveiro. No picape produz 120 cv, mas VW quer melhorar
rendimento e reduzir o degrau significativo entre os primos 3 cilindros turbo e
4 aspirado.
Produção
na pioneira usina de São Bernardo do Campo, SP.
Argo: sedã quase pronto
Parecia
coisa arrumada – como volta e meia ocorre: uma novidade em pré lançamento
estacionada em local público, atrativo a fotografias. Deu-se semana passada com
o Projeto X6S, a variável sedã do Fiat Argo, substituto de Grand Siena e Linea.
Cinco unidades fizeram pose na beirada do Lago San Roque, em Córdoba, no meio
da Argentina, onde começou a indústria automobilística de lá. Emanuel Rock, paparazzo do Autoblog.ar fotografou.
Apresentam
novidade: distância entre eixos superior à do Argo, permitindo um sedã três
volumes confortável e com porta malas de boa capacidade – como o Grand Siena.
Quanto à parte mecânica, idêntica ao Argo: por enquanto duas motorizações de
quatro cilindros: 1,3, oito válvulas, caixa de transmissão mecânica, 5
velocidades; e 1,8 EtorQ 1,8, 16 válvulas, 135 cv, transmissão idêntica ou
automática Aisin com meia dúzia.
Início
de produção na Argentina ao final do ano. Vendas no Brasil em prazo
desconhecido, porém curto. Direção não aguenta mais as pressões da rede de
revendedores, esvaziada em produtos.
Sedã Argo, ainda sem nome. (Foto: Emanuel Rock/Autoblog) |
Adesivado para cobrir detalhes, o Polo pré série número 00029 na Fazenda Capuava ( Foto: VW) |
Polo mascarado: bom de andar
Disfarçado,
VW fez apresentação dinâmica do Polo. Convidou alguns jornalistas a dirigi-lo.
Eu estava lá. Fiquei surpreendido com o conjunto. Automóvel é feito sobre a
nova plataforma MQB, a mesma do Golf VII, Audi A 3, 4 e 5. Já o vira antes e
tive boa impressão e com a sessão de dirigir confirmou minha certeza: se o
preço não atrapalhar será fortíssimo concorrente no segmento, em especial
porque ao momento do início das vendas, outubro, terá o bom conjunto com
motorização 1,0 TSI, - turbo soprando a 1,3 bar, injeção direta, 128 cv, 200 Nm
de torque -, e transmissão automática, epicicloidal, de 6 velocidades. Atenderá
a quem deseja baixo consumo, ótima performance e o conforto do uso da caixa.
Haverá opção de motor 1,6, mas de potencia e torque ainda em definição.
Experiência
foi no circuito doméstico da Fazenda Capuava, próxima ao aeroporto de Viracopos,
e embora não espelhe o tipo de uso do consumidor padrão, permitiu aferir o
mínimo – aceleração, frenagem, disposição para retomar velocidade, ótimo acerto
entre direção, freios a disco nas quatro rodas e a suspensão McPherson frontal
e eixo de torção na traseira.
Confortável
internamente – motorista com 1,75m deixa espaço para passageiro do mesmo
tamanho no banco posterior. Acomodação boa, ergonomia idem, incremento em
conectividade e controles, tudo ajustável em tela, em sistema mais racional e
menos nerd. Porta malas pouco menor
relativamente ao Golf. Em resumo, se o departamento financeiro não se
entusiasmar para recuperar os prejuízos da empresa com apenas um produto, será
acontecimento no mercado – ameaçando, inclusive, o futuro do Golf.
Roda-a-Roda
Surpresa
– Salão de Frankfurt, setembro, novidade Suzuki: Swift Sport Turbo. Na
segunda geração do bem vendido hatch reduziu peso e cilindrada, conseguindo
ótimos rendimento e consumo.
Baixo peso + turbo = performance econômica (divulgação Suzuki) |
Anda – Preparava conceitos e base para a terceira
geração, mesma plataforma, mantido o regime de emagrecimento, pesa apenas 890
kg – na versão 4x4 pouco mais. Motor baixou a 1,4 litro e a aplicação do Turbo
elevou a potência a 138 cv.
Performance – Tal desenvolvimento amplia o caminho para
absorver compradores. Além da resistência e da boa construção, terá performance
significante graças às ótimas relações entre peso e torque ou peso e potencia.
A Suzuki continua familiar e solteira nestes tempos de casamentos e conjunções
industriais.
Largou –
Volkswagen iniciou produzir o Polo. Lançamento início de setembro, vendas em
outubro. Na usina da marca em São Bernardo do Campo, SP.
Trilha – Bons
números de venda do Ford Ranger entre os picapes médios, pela primeira vez
alinhando entre os três mais vendidos – Toyota Hilux, 3.065 unidades, líder,
Chevrolet S 10, 2.672, Ford Ranger, 1.559, VW Amarok, 1229 - está baseado no
oferecimento de bom conteúdo, motor diesel – embora menor e menos potente – e
preço.
Caminho – Toyota
quer transformar picada em caminho criando versão de seu picape HiLux a menor
preço. Manterá arquitetura mecânica diesel, cabine dupla, mas simplificará
conteúdo e decoração. Quer atuar em faixa inferior. Lançamento em outubro.
Razão –
Almoço de meia dúzia de jornalistas, David Powels, presidente da VW, pergunta: Porque o Ônix vende mais? Resposta dos
seis: o MyLink. Porque? Respondeu a Coluna: pelo fato de o comprador de pouca
capacidade aquisitiva se sentir acima dos demais motoristas de carros baratos, nivelado
aos carros com sistemas Premium de conectividade como os Mercedes, Audi,
etcetera. A mesma mística de quem compra Hyundai HB20.
Correria –
Tempos instáveis, nunca se sabe do prazo de validade dos ministros de estado, e
por isto interessados na legislação Rota
20/30, a regra da indústria automobilística para os próximos anos, tem tentado
audiências com o ministro Marcos Pereira do MDIC. Querem ter a regra pronta e
solidificada o mais rápido possível, para evitar eventual substituição detendo
o processo.
Antenas –
Fabricantes instalados sob a proteção do programa Inovar-Auto, ainda em vigor,
anseiam por definição. Hoje tem pífio índice de nacionalização – alguns recebem
os carros pintados -, coisa ofensiva, abaixo da assinalada no Governo Vargas!,
baixa produção, alto custo. Há marcas analisando fechar fabricação nacional.
Sinal
– Caminho óbvio para não detonar as linhas de montagem
em tempos de queda de vendas no mercado interno, é fomentar as exportações. Volkswagen
tem feito isto com competência, elevando vendas externas em 52%. Argentina e
México são os maiores mercados, e Gol produto mais comprado. É a maior
exportadora de veículos nacionais.
Idem – Mercedes tomou
mesmo caminho: exporta motores diesel da família OM 460 Euro 3, para Actros,
fora de estrada Arocs e Zetros para
a Alemanha. Vão
para enfrentar jogo duro em caminhões exportados para África e Oriente Médio.
Gestão –
Sob a condução de David Powels, o cargo de presidente da VW Brasil teve
atribuições aumentadas para o Continente. E com Vice Presidência para
exportações, tem incrementado pontualmente, país a país, participação da marca
nas vendas. Exceto Brasil, Argentina e México nos outros 27 países importadores
vendas cresceram 105% nos sete primeiros meses de 2017.
Negócio –
Vender ao exterior é operação complexa, um compromisso institucional, a criação
de relacionamento com importador e cliente, pois não se pode deixar o comprador
sem assistência ou garantia de continuidade.
Também
– Marcopolo, de ônibus, analisando crescimento de 15,3%
relativamente a período idêntico em 2016, acredita ter iniciado período de
recuperação no mercado brasileiro. Receita também reagiu crescendo 23,6%.
Conhece? –
DAF, marca holandesa hoje controlada pelo capital norte-americano Paccar,
fabrica caminhões no Brasil e acaba de entregar a unidade nº 2.000. Comprou-a a
Transgobbi, cliente com 15 unidades.
Gente – Alberto César Otazú, 16,
piloto de kart, revelação. OOOO Vem de série de vitórias e arrematou-as com a Gold Trophy, após
melhor volta e ganhar prova no Kardódromo Ayrton Senna, SP. OOOO É esperança para em poucos anos fazer
presença brasileira na Fórmula 1. OOOO
Raul Randon, industrial de transporte, agro negócio, vinho e queijo, perfeccionista,
aniversário. OOOO
88 anos – e trabalhando. OOOO Tem a fábrica de implementos
com seu nome, vinhos e queijos RAR. OOOO
Leia> Coisas de Agora.
* Roberto Nasser, edita@rnasser.com.br, é advogado especializado em indústria automobilística, atua em Brasília (DF) onde redige há ininterruptos 42 anos a coluna De Carro por Aí. Na Capital Federal dirige o Museu do Automóvel, dedicado à preservação da história da indústria automobilística brasileira.