terça-feira, 16 de julho de 2019

CONVERSA DE PISTA.
Por Wagner Gonzalez*

O FUTURO BATE À PORTA E O PRESENTE NAS RODAS


Silverstone renova contrato enquanto Max e Charles esquentam rivalidade


Mercedes novamente dominaram desde a largada, mas a corrida foi das mais disputadas Foto: Red Bull/Getty Images.

A saga do futuro da F-1 teve um segundo capítulo positivo e consecutivo no último fim de semana. Após dois anos de longas tratativas o circuito de Silverstone garantiu sua permanência no calendário da categoria e dois pilotos mostraram que uma rivalidade anunciada no kart está presente e consolidada no principal palco do esporte. Num mundo onde as mudanças acontecem com velocidade incrível, tais fatos são indicações saudáveis de que nem tudo está perdido.

Ameaça de Silverstone sair do campeonato termina em futuro promissor. Foto: Ferrari.

Quando adquiriu os direitos comerciais da F-1 de Bernie Ecclestone o grupo norte-americano Liberty Media começou a descobrir que a mão de ferro do antigo dono criou riquezas a um custo insustentável. De acordo com artigo publicado pelo jornal inglês The Guardian, o preço cobrado para realizar uma corrida em 2026 seria de £ 25 milhões, algo como R$ 125 milhões, contra os R$ 58 milhões cobrados em 2011 e os R$ 83 milhões pagos em 2017. Trata-se de uma contabilidade insustentável até mesmo em países de primeiro mundo e, pior, naquele que tem no esporte a motor uma significativa receita do seu PIB.

As negociações entre Chasey Carey, o executivo maior da Liberty Media, e David Grant, o presidente do British Racing Drivers Club (clube proprietário de Silverstone) foram longas e difíceis. Tentativas de transferir o GP britânico para um circuito montado nas ruas de Londres (algo que ainda pode acontecer, mas como GP da Inglaterra) e a pura e simples ameaça de extirpar o palco da primeira corrida da F-1, em 1950, fizeram parte desse processo que durou mais de dois anos. 

Ante o cenário de uma categoria com corridas pouco interessantes, declínio de audiência e ausência de novos fãs, a razão prevaleceu sobre a ganância e no fim de semana foi possível ouvir esta declaração de Carey: "Silverstone é uma grife do nosso calendário e, sem dúvida, um evento especial. Nossa primeira corrida aconteceu aqui, há 70 anos e o Reino Unido tem um lugar especial na F-1. Assegurar o futuro desta corrida é um alicerce para o futuro do esporte, e Silverstone é uma grande parte desse futuro."

Cabe perguntar se é tudo assim, tão bonito, por que as negociações foram tão longas? Certamente porque a Liberty Media demorou para entender que não poderia manter o mesmo estilo de negociação de Ecclestone, que nunca nutriu um grande amor por Silverstone, quem sabe por que no fundo sonhava em adquirir essa pista criada em torno de um aeródromo militar construído para a II Guerra Mundial. O lucro maior da continuidade do autódromo localizado no condado de Northamptonshire nos calendários até 2024, porém, é que os promotores de GPs mundo afora ganharam um presente único: já sabem que podem negociar a renovação de seus contratos em termos mais factíveis. Brasil, Espanha e México são alguns dos países que negociam a renovação de seus contratos atuais.

O que se viu domingo, na pista, poderia até mesmo obscurecer as consequências positivas dessa negociação, posto que Lewis Hamilton e Valtteri Bottas mais uma vez dominaram a corrida e ocuparam os dois lugares mais altos do pódio, nessa ordem -veja aquio resultado completo do GP da Grã-Bretanha. Ledo engano: o inglês usou de manhas e artimanhas para superar o companheiro de equipe e dois dos pilotos mais jovens do grid deram demonstração irrefutável que uma nova era de disputas começou.

Após a derrota para Max Verstappen no GP da Áustria, disputado há pouco mais de duas semanas, Charles Leclerc deixou claro que não será na pista que voltará a ser superado pelo adversário holandês: se foi novamente prejudicado pela estratégia equivocada da Ferrari no que se refere a parar para trocar pneus, o monegasco saiu no lucro quando Sebastian Vettel colidiu contra a traseira do piloto da Red Bull. Acabou completando o pódio e agora está a apenas três do seu companheiro de equipe na classificação do campeonato.

Corrida após corrida é Leclerc (D) quem mais se destaca entre os dois pilotos da Scuderia.  Foto: Ferrari.

Quem refletir sobre a colisão entre o Red Bull #33 e o Ferrari #5 certamente vai considerar se o alemão não vive o ocaso de sua carreira: desde o GP da Alemanha do ano passado Vettel tem se destacado mais por erros de pilotagem do que por ausência de vitórias e ultrapassagens dignas de um tetra-campeão que pintou como o único capaz de superar os recordes do compatriota Michael Schumacher. O que se tem visto nas pistas é que Charles Leclerc vai tomar seu lugar em uma bate-bate com Max Verstappen e que será Lewis Hamilton o novo recordista de números da categoria. Silverstone já garantiu presença no calendário do ano que vem, quando esta previsão poderá ser um fato consumado.

Hamilton, cada vez mais popular e próximo de quebrar todos os recordes da F-1 . Foto: Mercedes.


* Wagner Gonzalez é jornalista especializado em automobilismo de competição, acompanhou mais de 350 grandes prêmios de F-1 em quase duas décadas vivendo na Europa. Lá, trabalhou para a BBC World Service, O Estado de S. Paulo, Sport Nippon, Telefe TV, Zero Hora, além de ter atuado na Comissão de Imprensa da FIA. Atualmente é diretor de redação do site Motores ClássicosTwitter: @motclassicosFale com o Wagner Gonzalez: wagner@beepress.com.br.

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