Isso aconteceu no campo de
provas de uma montadora no Interior de São Paulo, em meados dos anos 80. Entre
os vários testes havia um para verificar se a vedação impedia a entrada de pó
nos automóveis. Era feito com o que havia de melhor na época: uma picape seguia
à frente, na estrada de terra, levantando toda a poeira do mundo.
Como? Arrastava uma espécie de
trave "forrada" por folhagens e galhos de árvores, que causava o
efeito necessário para o teste de isolamento do veículo. A pista tinha cerca de
4 km de extensão, toda a em terra, com pedregulhos, irregular e perfeita para
avaliações dos veículos fora de estrada e a pesquisa em questão, pois a região
é de pouca chuva e poeira lá é o que não falta.
Daí, o carro seguia a picape
ou melhor, a poeira. Curvas para a direita, para esquerda, em frente, subidas e
descidas. Tudo que a poeira fazia, o engenheiro do carro fazia igual.
Ao final, todo ele era
analisado, interior, porta-malas, capô. Tudo mesmo, tal qual faz o pessoal do
CSI na "cena do crime", só faltando mesmo o "Luminol", mas
não era o caso de se descobrir sangue, e sim o pó que conseguisse furar o
bloqueio projetado pela Engenharia da fábrica visando garantir o conforto e bem
estar dos ocupantes do veículo.
Bem, seguindo as regras do
campo de provas, o condutor do carro "perseguia" a poeira, sem
enxergar absolutamente nada. Nada mesmo! Só o pó. Eu cheguei a acompanhar um
teste desses. Algo assustador.
Não havia problemas com aquele
tipo de trabalho e, na maioria das vezes, a engenharia havia acertado a questão
do isolamento, nem poeira o "testador" cheirava.
Só que, num dia qualquer,
quando a picape virou para a esquerda, um vento forte soprou reto e a poeira,
ao invés de seguir a picape, se lançou em frente, seguida pelo carro em teste,
que foi parar num barranco. E o motorista da picape, inocentemente, também
seguiu em frente só percebendo que
acontecera, quando o carro parou no barranco.
Soltou o cinto de segurança e,
assustado, mas ileso, sem nem mesmo um arranhão, e também sem nada entender, o
engenheiro saiu do carro. E chegou à conclusão que fora uma apenas uma lufada,
muito forte, de vento que fizera aquela "traquinagem" e desaparecera.
Ficou esperando que fossem
rebocar o veículo do teste. Como a pista ficava no meio do mato, ele chegou até
a pensar que aquilo talvez tenha sido obra do Saci Pererê, que vez por outra
aparecia lá por aqueles lados,como garantem os criadores de Saci da região.
* chicolelis - chicolelis@gmail.com - Jornalista com passagens pelos jornais A Tribuna (Santos), O Globo e Diário do Comércio. Foi assessor de Imprensa na Ford, Goodyear e, durante 18 anos gerenciou o Departamento de Imprensa da General Motors do Brasil. Assina a coluna “Além do Carro”, na revista Carro, onde mostra ações do setor automotivo nos campos Social e Ambiental.
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