quinta-feira, 26 de julho de 2018

AUTÔNOMOS QUESTIONADOS. Por Fernando Calmon.


O avanço constante das pesquisas sobre carros autônomos tem encantado os países do hemisfério norte, onde o alto poder aquisitivo dá margem a novas experiências que prometem um trânsito mais seguro e menos danoso ao meio ambiente. Esse cenário dá margem a pensar no melhor dos mundos, ou seja, soluções ousadas como compartilhamento de veículos e alta conectividade entre veículos e infraestrutura viária.

Tudo altamente desejável, porém exige esforço financeiro imenso, longo planejamento, mudanças nas vias, reformulação dos códigos de trânsito e, acima de tudo, tempo, muito tempo. Prefeituras de capitais europeias já anunciaram planos de restrições severas, em alguns casos banimento, à circulação de automóveis sem mostrar como a mobilidade rápida estará garantida. Anunciaram datas de implantação sem o menor compromisso com a viabilidade técnica e/ou econômica.

Mas há vozes ponderadas também. O professor de Política Pública do King’s College London, Mark Kleinman, em artigo no site The Conversation deu o instigante título: “E se os veículos autônomos nos fizessem mais dependentes dos carros?”

Para ele, “é provável que autônomos aumentem – em vez de diminuírem – o uso do carro, pois as pessoas sucumbem ao fascínio da conveniência, saem do transporte público ou fazem mais deslocamentos. Veículos autônomos podem estacionar fora dos centros urbanos, mas ainda precisam estacionar, além de fazerem viagens de retorno para coletar passageiros, acrescentando carros vazios às estradas e aumentando congestionamentos.”

E continua: “Há muitas perguntas sem respostas. Não está claro como veículos autônomos coexistirão com pedestres e ciclistas. Se estiverem programados para parar sempre que um destes entrar em seu caminho, haverá pressão para que automóveis sejam separados de pedestres e ciclistas. A visão das cidades em 2050 pode começar a parecer cada vez mais com a dos anos 1950. Carros futuristas dominariam o cenário, enquanto atividades de andar e pedalar ficariam relegadas a passarelas e metrôs sombrios.”

Kleinman termina seu artigo advertindo que prefeitos deveriam ser mais cuidadosos no planejamento e convivência com veículos autônomos. Afinal, precisariam saber antes se pedestres estariam dispostos a obedecer a uma política severa de jaywalk (termo em inglês para atravessar a rua sem observar regras de cruzamento).

Evitar ao máximo a interferência entre meios de deslocamento com diferentes velocidades é o sonho de qualquer planejador urbano. Isso, por enquanto, está distante de solução prática e barata.

ALTA RODA


FCA pode viver tempos instáveis com a morte de Sergio Marchionne, presidente executivo do grupo ítalo-americano. Ele previa se aposentar em abril próximo, indicando seu sucessor, mas mantendo alto grau de influência pois continuaria acionista e ainda comandaria a Ferrari por mais três anos. Mike Manley, que hoje cuida de Jeep e Ram, é o novo líder.

MANLEY, um executivo inglês, terá muito desafios. A sua divisão, de longe, é a mais lucrativa e novas responsabilidades já tinham sido repassadas para ele por Marchionne. Este, por sua vez, sempre teve bons olhos para a filial brasileira e foi entusiasta da fábrica Jeep em Pernambuco. Isso não deve mudar, mas dependerá do dinamismo da nova administração.

ATUALIZAÇÃO de meia geração do Ford Ka (ano-modelo 2019) demonstra amadurecimento do projeto. Além de retoques estilísticos discretos, chamam atenção a estreia do motor tricilindro, 1,5 L/136 cv (etanol) e nova caixa de câmbio manual. Esta caixa surpreende pela exatidão dos engates e praticidade da ré sincronizada.

COMBINAÇÃO virtuosa no Ka é o novo câmbio automático de seis marchas, oferecido por razoáveis R$ 4.500, e o motor 1,5-L, um dos melhores de aspiração natural do mercado. Ganhou em silêncio a bordo graças ao para-brisa acústico. Quadro de instrumentos merece, ainda, modernização. Bastante úteis as duas entradas USB de alta amperagem, iluminadas e bem localizadas.

VERSÃO inédita FreeStyle do Ka não exagera tanto nos penduricalhos de pseudo-SUV. Retrabalho nas suspensões é ponto alto do modelo, apesar do preço pouco atraente. Toda a linha recebeu reforços estruturais já esperados. A Ford afirma que preços foram mantidos. Vão de R$ 45.490 a 70.990.

MOTOR turbo de quatro cilindros/2 L/300 cv é a principal novidade do Jaguar F-Type 2019. Desempenho muito próximo ao V-6 ainda em produção (na realidade, V-8 com dois cilindros ocos) e por preço menor: R$ 339.929 (cupê) e 346.144 (conversível). Ronco do motor, particularmente instigante. Programação automática de ajustes dinâmicos é outro destaque.

BMW e EDP montaram um corredor elétrico (430 km) em seis postos Ipiranga, entre São Paulo e Rio, ao custo de R$ 1 milhão. Iniciativa tem seu simbolismo por estimular o carro elétrico. Mas é bom lembrar que, mesmo com carregador super-rápido, um i3 exige 25 minutos até atingir 80% da capacidade da bateria. Para 100%, leva cerca de uma hora.







* Fernando Calmon - fernando@calmon.jor.br - é jornalista especializado desde 1967. Engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É publicada em O Brasil Sobre Rodas, WebMotors, Gazeta Mercantil e também em uma rede nacional de 52 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente para a América do Sul do site Just-auto (Inglaterra).Siga: www.twitter.com/fernandocalmon  - www.facebook.com/fernando.calmon2.